sexta-feira, 26 de agosto de 2011


Um contato quase trágico, o meu, com o Caboclo de Lança...
E se deu nas ladeiras de Olinda no carnaval de 1992, durante o cortejo de um Maracatu Nação,
Manifestação Popular que, diferente do Rural, tem sua origem vinculada à coroação dos Reis do Congo, sendo desdobramento das Congadas. Eu participava do desfile na ala das baianas. De uma hora para outra, tivemos que abrir passagem para algumas “figuras desgovernadas” que desciam a ladeira com uma espécie de cravo na boca, dançando de modo aparentemente desconexo e portando lanças enormes, cheias de fitas e bastantes pontiagudas, diga-se de passagem. Em sinal de respeito, nosso Cortejo abriu espaço para o desfile daquele grupo de Maracatu Rural, visto por mim, na época, com estranhamento. Aqueles Caboclos evoluíam com tamanho entusiasmo, força, exuberância que me deixaram hipnotizada por alguns instantes. Tempo suficiente para não perceber que o meu recuo não havia acontecido e por isso quase me vi com uma lança daquelas “enfiada no bucho”. Lança que, anos mais tarde, um Brincador conhecido como Seu João me cedeu gentilmente para que eu pudesse segurar e averiguar seu peso. Pesada, realmente! Ao perguntar o porquê de aos 84 anos continuar brincando Maracatu, o mesmo Seu João me fez entender o significado e a seriedade que envolve essa misteriosa brincadeira:
“O Maracatu é minha vida. A única coisa que eu quero quando morrer é continuar dançando Maracatu no céu.”



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